Por Maurício Porto,
Rio, 3 de fevereiro de 2013.
(Texto revisto em 07/03/2013).
A noite, parece passar cinicamente devagar.
Lerda, lenta, se fazendo de cansada.
Irritante e bocejante burocrata de plantão.
Na sua soberba ignóbil,
num petrificado balcão de repartição,
não reparte comigo a minha angústia
e pressa pelo amanhecer.
O tempo finge que dorme.
Descaradamente imóvel,
estático cadáver vivo.
Posto de Saúde fechado
para os desesperados
e agoniados seres
que anseiam pela chegada do dia.
Insones somos.
O silêncio, silenciosa e traiçoeiramente
calou os cães, os grunhidos dos bêbados perdidos,
o batecum interminável das festas vizinhas
e tudo mais que ouço em noites como esta,
até mesmo os estalos das madeiras desta minha velha casa.
De propósito, tenho absoluta certeza,
o silêncio para me levar ao desespêro,
emudeceu Santa Teresa.
Beethoven, mesmo surdo,
se vivo fosse e aqui morasse,
sentiria e perceberia este absurdo,
esta insanidade e, talvez,
compusesse uma sinfonia mais bela do que a nona.
Tenho a pressa das manhãs.
Não suporto mais as noites,
íngremes como as minhas ladeiras
que parecem não ter fim.
Tornei-me íngreme, para mim mesmo.
Cansado, demasiadamente fraco,
num guerreiro esforço tento prosseguir.
Então, sóbrio e solene,
sentindo próximo o gosto da derrota
não me dou por vencido e
numa desesperada alusão a Pirro, proclamo:
- A noite, o tempo e o silencio me invejarão
quando eu chegar ao fim da minha ladeira.
A noite, terá sempre o dia como rival.
O tempo, correrá mediocremente nos relógios.
O silêncio, não será tão profundo quanto o meu.
Para todos os meus irmãos insones.
PS: Para meus filhos, irmãos, cunhadas e cunhados, sobrinhas e sobrinhos, amigos e leitores: - Não se preocupem, eu estou muito bem de saúde, física e mentalmente. Quem escreveu este texto, na verdade, foi um pedaço meu que já viveu momentos semelhantes, há muitos anos atrás. Não escrevo nada daquilo que não vivi.
Para Olívia, minha sobrinha queridinha, a bemtevivi !
Do meu livro - Ladeiras do Silêncio
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Lá em baixo, a cidade dorme a sua incerteza. Morro acima, o luar banha e lava as ladeiras. Silêncio de se esquecer o mundo. É noite em Santa Teresa.
quinta-feira, 7 de março de 2013
ÍNGREME INSONE / MAURÍCIO PORTO
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