Orquídeas no meu jardim / Foto - Maurício Porto |
A noite me avisa que será longa, o frio agasalhado confirma.
O silêncio sai para calar o cão da rua de cima. O livro na mesa ao lado me olha com um olhar pedinte. O teclado do computador me espera pacientemente.
As palavras se recusam a sair. Devem estar com frio ou talvez entretidas e reunidas em frases, numa intensa e interna conversa que finjo não ouvir. Ofereço-lhes mais um gole de uma cachaça da boa. Se elas não vierem não tem importância, se não querem brindar, bebo sozinho. Visito um blog amigo e leio um artigo. Não tenho pressa e nem sono. O tempo me faz sinais que está com preguiça. O silêncio retorna, ouvido atento. Como tem cachorro em Santa Teresa! Sem esforço prossigo. Escrevo. As palavras enfim me deram bola, aceitaram um gole e saltaram rapidamente para os meus dedos. Não as repreendo, eu as conheço bem. Tagarelas, passam o dia inteiro conversando, e quando delas preciso parecem meus filhos mais novos quando lhes telefono: Rapidinho pai, meu celular está tocando. Quase desligam o telefone na minha cara. Às vezes me ligam de volta. Às vezes se esquecem.
Depois, se ligo e reclamo, ouço o eterno: Foi mau Pai.
Uma carambola cai. Morcego! Entre os galhos das duas centenárias mangueiras e da não mais nova caramboleira, rainhas do meu jardim, os morcegos brincam de acrobacias. Saí pra varanda do meu escritório, o frio me deu pouco tempo e me empurrou de volta pra dentro. Ao menos, no céu, pude ver o Cruzeiro já deitado, dormia. Alfa e beta Centauro ainda brilhavam acordadas. Pela posição em que estavam, pensei, é cedo ainda, deve ser quase meia-noite. Desisto de escrever, perdi a vontade. Desligo o computador, pego o livro, enfrento sem temer ou tremer o frio, que certamente ficou desapontado. Desço da varanda pela escada que me leva direto ao jardim. Vou ver as orquídeas, que há quatro dias depois de um ano, renasceram. Amanhã vou fotografá-las na minha única e anual cerimônia que religiosamente respeito. Entro em casa e na sala me sento para ler na pequena bergère que como colo de avó consegue o quase impossível, me fazer como uma criança dormir à noite. Minto, minha velha cadeira thonet também consegue mas, é diferente. Nela trabalho há quase quarenta anos e quando durmo, sem colo nem nada, é por puro cansaço. De repente ouço a voz suave de minha mulher: Vá pra cama dormir. Acordo, é dia claro. Me levanto com cuidado para não derrubar o livro. Vou ao banheiro, escovo os dentes e lavo o meu rosto. Faço um café naquela mágica cafeteira italiana.
De brincadeira, penso: Deve ter sido Da Vinci quem a inventou! Tomo o café, pego minha câmera e vou para o jardim. As orquídeas me esperam. Tiro umas vinte fotos. Subo para o quarto, troco a roupa, deito e me enfio nas cobertas. Minha mulher ainda está se arrumando escolhendo colares, pulseiras e brincos e ainda pergunta pra mim: Está combinando? Eu, morrendo de sono, levanto a cabeça, olho e automáticamente respondo: Está ótimo! Confiante e decidida ela pega a sua bolsa. Levanto a cabeça outra vez e lhe desejo: Bom dia! Com seu sorriso encantado, ela olha pra mim e responde: Boa Noite!
Uma carambola cai. Morcego! Entre os galhos das duas centenárias mangueiras e da não mais nova caramboleira, rainhas do meu jardim, os morcegos brincam de acrobacias. Saí pra varanda do meu escritório, o frio me deu pouco tempo e me empurrou de volta pra dentro. Ao menos, no céu, pude ver o Cruzeiro já deitado, dormia. Alfa e beta Centauro ainda brilhavam acordadas. Pela posição em que estavam, pensei, é cedo ainda, deve ser quase meia-noite. Desisto de escrever, perdi a vontade. Desligo o computador, pego o livro, enfrento sem temer ou tremer o frio, que certamente ficou desapontado. Desço da varanda pela escada que me leva direto ao jardim. Vou ver as orquídeas, que há quatro dias depois de um ano, renasceram. Amanhã vou fotografá-las na minha única e anual cerimônia que religiosamente respeito. Entro em casa e na sala me sento para ler na pequena bergère que como colo de avó consegue o quase impossível, me fazer como uma criança dormir à noite. Minto, minha velha cadeira thonet também consegue mas, é diferente. Nela trabalho há quase quarenta anos e quando durmo, sem colo nem nada, é por puro cansaço. De repente ouço a voz suave de minha mulher: Vá pra cama dormir. Acordo, é dia claro. Me levanto com cuidado para não derrubar o livro. Vou ao banheiro, escovo os dentes e lavo o meu rosto. Faço um café naquela mágica cafeteira italiana.
De brincadeira, penso: Deve ter sido Da Vinci quem a inventou! Tomo o café, pego minha câmera e vou para o jardim. As orquídeas me esperam. Tiro umas vinte fotos. Subo para o quarto, troco a roupa, deito e me enfio nas cobertas. Minha mulher ainda está se arrumando escolhendo colares, pulseiras e brincos e ainda pergunta pra mim: Está combinando? Eu, morrendo de sono, levanto a cabeça, olho e automáticamente respondo: Está ótimo! Confiante e decidida ela pega a sua bolsa. Levanto a cabeça outra vez e lhe desejo: Bom dia! Com seu sorriso encantado, ela olha pra mim e responde: Boa Noite!
Maurício Porto
Rio, 29 de junho de 2011
Do meu livro - Ladeiras do silêncio.
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