Lá em baixo, a cidade dorme a sua incerteza. Morro acima, o luar banha e lava as ladeiras. Silêncio de se esquecer o mundo. É noite em Santa Teresa.
quinta-feira, 30 de junho de 2011
DELIRIUM TREMENS: O OLHO DA MINHA ITAIPAVA ME OLHANDO !
DELIRIUM TREMENS - O ÔLHO DA MINHA ITAIPAVA ME OLHANDO / MAURÍCIO PORTO / 2006 |
Maurício Porto,
Rio, 30 de junho de 2006.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
BOM DIA, BOA NOITE. ORQUÍDEAS NO MEU JARDIM
Orquídeas no meu jardim / Foto - Maurício Porto |
A noite me avisa que será longa, o frio agasalhado confirma.
O silêncio sai para calar o cão da rua de cima. O livro na mesa ao lado me olha com um olhar pedinte. O teclado do computador me espera pacientemente.
As palavras se recusam a sair. Devem estar com frio ou talvez entretidas e reunidas em frases, numa intensa e interna conversa que finjo não ouvir. Ofereço-lhes mais um gole de uma cachaça da boa. Se elas não vierem não tem importância, se não querem brindar, bebo sozinho. Visito um blog amigo e leio um artigo. Não tenho pressa e nem sono. O tempo me faz sinais que está com preguiça. O silêncio retorna, ouvido atento. Como tem cachorro em Santa Teresa! Sem esforço prossigo. Escrevo. As palavras enfim me deram bola, aceitaram um gole e saltaram rapidamente para os meus dedos. Não as repreendo, eu as conheço bem. Tagarelas, passam o dia inteiro conversando, e quando delas preciso parecem meus filhos mais novos quando lhes telefono: Rapidinho pai, meu celular está tocando. Quase desligam o telefone na minha cara. Às vezes me ligam de volta. Às vezes se esquecem.
Depois, se ligo e reclamo, ouço o eterno: Foi mau Pai.
Uma carambola cai. Morcego! Entre os galhos das duas centenárias mangueiras e da não mais nova caramboleira, rainhas do meu jardim, os morcegos brincam de acrobacias. Saí pra varanda do meu escritório, o frio me deu pouco tempo e me empurrou de volta pra dentro. Ao menos, no céu, pude ver o Cruzeiro já deitado, dormia. Alfa e beta Centauro ainda brilhavam acordadas. Pela posição em que estavam, pensei, é cedo ainda, deve ser quase meia-noite. Desisto de escrever, perdi a vontade. Desligo o computador, pego o livro, enfrento sem temer ou tremer o frio, que certamente ficou desapontado. Desço da varanda pela escada que me leva direto ao jardim. Vou ver as orquídeas, que há quatro dias depois de um ano, renasceram. Amanhã vou fotografá-las na minha única e anual cerimônia que religiosamente respeito. Entro em casa e na sala me sento para ler na pequena bergère que como colo de avó consegue o quase impossível, me fazer como uma criança dormir à noite. Minto, minha velha cadeira thonet também consegue mas, é diferente. Nela trabalho há quase quarenta anos e quando durmo, sem colo nem nada, é por puro cansaço. De repente ouço a voz suave de minha mulher: Vá pra cama dormir. Acordo, é dia claro. Me levanto com cuidado para não derrubar o livro. Vou ao banheiro, escovo os dentes e lavo o meu rosto. Faço um café naquela mágica cafeteira italiana.
De brincadeira, penso: Deve ter sido Da Vinci quem a inventou! Tomo o café, pego minha câmera e vou para o jardim. As orquídeas me esperam. Tiro umas vinte fotos. Subo para o quarto, troco a roupa, deito e me enfio nas cobertas. Minha mulher ainda está se arrumando escolhendo colares, pulseiras e brincos e ainda pergunta pra mim: Está combinando? Eu, morrendo de sono, levanto a cabeça, olho e automáticamente respondo: Está ótimo! Confiante e decidida ela pega a sua bolsa. Levanto a cabeça outra vez e lhe desejo: Bom dia! Com seu sorriso encantado, ela olha pra mim e responde: Boa Noite!
Uma carambola cai. Morcego! Entre os galhos das duas centenárias mangueiras e da não mais nova caramboleira, rainhas do meu jardim, os morcegos brincam de acrobacias. Saí pra varanda do meu escritório, o frio me deu pouco tempo e me empurrou de volta pra dentro. Ao menos, no céu, pude ver o Cruzeiro já deitado, dormia. Alfa e beta Centauro ainda brilhavam acordadas. Pela posição em que estavam, pensei, é cedo ainda, deve ser quase meia-noite. Desisto de escrever, perdi a vontade. Desligo o computador, pego o livro, enfrento sem temer ou tremer o frio, que certamente ficou desapontado. Desço da varanda pela escada que me leva direto ao jardim. Vou ver as orquídeas, que há quatro dias depois de um ano, renasceram. Amanhã vou fotografá-las na minha única e anual cerimônia que religiosamente respeito. Entro em casa e na sala me sento para ler na pequena bergère que como colo de avó consegue o quase impossível, me fazer como uma criança dormir à noite. Minto, minha velha cadeira thonet também consegue mas, é diferente. Nela trabalho há quase quarenta anos e quando durmo, sem colo nem nada, é por puro cansaço. De repente ouço a voz suave de minha mulher: Vá pra cama dormir. Acordo, é dia claro. Me levanto com cuidado para não derrubar o livro. Vou ao banheiro, escovo os dentes e lavo o meu rosto. Faço um café naquela mágica cafeteira italiana.
De brincadeira, penso: Deve ter sido Da Vinci quem a inventou! Tomo o café, pego minha câmera e vou para o jardim. As orquídeas me esperam. Tiro umas vinte fotos. Subo para o quarto, troco a roupa, deito e me enfio nas cobertas. Minha mulher ainda está se arrumando escolhendo colares, pulseiras e brincos e ainda pergunta pra mim: Está combinando? Eu, morrendo de sono, levanto a cabeça, olho e automáticamente respondo: Está ótimo! Confiante e decidida ela pega a sua bolsa. Levanto a cabeça outra vez e lhe desejo: Bom dia! Com seu sorriso encantado, ela olha pra mim e responde: Boa Noite!
Maurício Porto
Rio, 29 de junho de 2011
Do meu livro - Ladeiras do silêncio.
SAMUEL O VAN GOGH DO MAM
Caros leitores,
Samuel foi aluno da minha primeira turma do meu curso de desenho no MAM / RJ em outubro de 1984. São seus os desenhos tipo antes e depois na apresentação do meu blog: Desenho e Ensino. Ele se destacou pela dedicação e pelas falas extremamente espirituosas, eu diria mesmo hilárias.
Ele está aqui ao lado de Van Gogh porque após ter feito o seu auto-retrato de perfil, não deu outra, para a turma ele passou a ser o Van Gogh do MAM.
Ele está aqui ao lado de Van Gogh porque após ter feito o seu auto-retrato de perfil, não deu outra, para a turma ele passou a ser o Van Gogh do MAM.
Em 2001 encontrei Samuel no Clipper no Leblon. Ele me saudou efusivamente:
"Grande Mestre, preciso novamente das suas aulas, quero ser pintor".
Tomamos um chope, conversamos um quase nada pois ele estava muito apressado, trocamos telefones e ele muito agitado se despediu.
Montou numa fantástica Harley-Davidson e gritou para mim : "Um dia vou ser pintor". Sumiu em segundos.
Desde de então, nunca mais o vi e nem falei com ele.
Não me surpreenderei se encontrá-lo novamente sem a orelha esquerda.
Até a próxima,
Santa Teresa, Rio de Janeiro, 5 de abril de 2008.
(Texto revisto em 29 de junho de 2011)
Maurício Porto
Rio, 29 de junho de 2011
Texto do meu blog: Desenho e Ensino
domingo, 26 de junho de 2011
quinta-feira, 23 de junho de 2011
quarta-feira, 22 de junho de 2011
LABIRINTOS DO TEMPO
Descendo a minha ladeira,
em frente à minha casa,
passa o vendedor
com seu grito antigo, secular,
que nas Laranjeiras
da minha infância eu ouvia.
Mal sabe ele,
que nas Laranjeiras
da minha infância eu ouvia.
Mal sabe ele,
que ao tentar vender vassouras,
me deu de presente
os distantes dias do passado.
Coisas de Santa Teresa.
Coisas de Santa Teresa.
Esqueço o que eu pensava,
me perco nos labirintos do tempo.
Que se danem
os Minotauros da realidade!
Subo a ladeira correndo,
chego na pracinha
e meus amigos de infância
me esperam para a pelada.
Me prometo e mesmo juro,
vou marcar o gol da vitória
contra o time da outra ladeira
e serei carregado em triunfo.
Treinarei todos os dias.
Assim vou me tornar
o craque da pracinha.
Quando eu crescer
vou jogar no Botafogo
e antes que a vida vire verdadeira
e antes que a vida vire verdadeira
e me retire dos labirintos do tempo,
ou que os Minotauros
com sua cruel realidade me devorem,
com sua cruel realidade me devorem,
acreditem, serei convocado
para a Seleção Brasileira.
Maurício Porto
Rio, 22 de junho de 2011
Do meu livro - Ladeiras do Silêncio.
Para o genial Jairzinho que tantas alegrias me deu
no meu querido Botafogo e na Seleção Brasileira.
no meu querido Botafogo e na Seleção Brasileira.
Em memória de Luiz Eduardo Paes Leme, o Dudu,
meu grande amigo, botafoguense e o maior craque
das nossas peladas na Rua Tibagí, nas Laranjeiras.
meu grande amigo, botafoguense e o maior craque
das nossas peladas na Rua Tibagí, nas Laranjeiras.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
CHICO, MUITO OBRIGADO ! FELIZ ANIVERSÁRIO !
CHICO BUARQUE / ILUSTRAÇÃO DIGITAL MAURÍCIO PORTO / 2011 BASEADA EM FOTO DO GOOGLE IMAGENS |
Minha vida mudou totalmente
quando na minha pequena vitrola,
aquele rapaz, Francisco,
simplesmente me fez acreditar
que ela, a vida, era também pura poesia.
Por causa dele, o teto e as paredes
do meu quarto desapareciam.
Minha namorada e eu na cama,
de repente, olhando para todos os lados,
com o espanto dos descobridores,
com o espanto dos descobridores,
víamos um novo mundo nascer.
Nos LP's e nas rádios,
estava ele a nos fazer mais felizes,
mais poéticos e sensíveis,
cantando o amor
e o amor à liberdade,
e tudo o que ele via e sentia,
Nos fez mais atentos, bico calado,
cantando o amor
e o amor à liberdade,
e tudo o que ele via e sentia,
Nos fez mais atentos, bico calado,
apesar de orgulhosos da nossa língua
portuguesa-brasileira
por ele enriquecida
em libertos poemas,
numa luta sem trégua
contra analfabetos carimbos
de obscuros censores,
que, insanos, insistiam
em vê-los desaparecidos.
Ele me ajudou a querer
portuguesa-brasileira
por ele enriquecida
em libertos poemas,
numa luta sem trégua
contra analfabetos carimbos
de obscuros censores,
que, insanos, insistiam
em vê-los desaparecidos.
Ele me ajudou a querer
o meu Brasil de volta,
que vultos sombrios,
informes nos seus uniformes,
nos seus porões insalubres,
trancaram e deformaram,
na longa noite escura,
sem estrelas nem lua,
de sonhos despedaçados,
de almas torturadas,
de vidas perdidas
que, enfim, terminou
numa lenta e combinada
frustante alvorada.
Sem ele nada saber,
que vultos sombrios,
informes nos seus uniformes,
nos seus porões insalubres,
trancaram e deformaram,
na longa noite escura,
sem estrelas nem lua,
de sonhos despedaçados,
de almas torturadas,
de vidas perdidas
que, enfim, terminou
numa lenta e combinada
frustante alvorada.
Sem ele nada saber,
percorreu minha vida até hoje.
Em tudo do que nela vi e vivi
lá estava ele, poeta maior,
compositor de primeira,
para mim, o melhor de todos,
sempre seguindo de perto meus passos,
meus acertos, meus fracassos.
No cotidiano,
Nas construções,
Nas ruas dos pivetes,
no Brasil dos brejos da cruz,
na minha querida Mangueira,
Derradeira estação,
no Subúrbio, coração.
Na alegria e na tristeza
dos meus casamentos.
No sensível olhar
dos olhos nos olhos,
das minhas separações,
nos amores e nas paixões
do que será que me dá.
Francisco já nasceu eterno.
Um anjo sem asas,
um santo malandro,
um orixá guerreiro,
de um Brasil, mais brasileiro.
Chico, muito obrigado!
Feliz aniversário!
19 de junho de 2011.
Para Irene, minha enteada, que desde muito cedo
as músicas de Chico adorava!
19 de junho de 2011.
Para Irene, minha enteada, que desde muito cedo
as músicas de Chico adorava!
Maurício Porto
Do meu livro - Ladeiras do Silêncio.
Rio, 19 de junho de 2011.
(Texto revisto e definitivo em 25 de junho de 2011)
Do meu livro - Ladeiras do Silêncio.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
PARA NOEL / MAURÍCIO PORTO / 2010
Carrego no meu coração, um Rio de Janeiro que eu adoro. Um Rio dos bondes de Santa Teresa, meu lugar no mundo. Rio de sambas, esquinas, bares, cerveja e violões. Meu Rio das sossegadas ladeiras de Santa e do mistério das suas casas fechadas. Rio da Lapa, do Centro, das Laranjeiras da minha infância, do Cosme Velho, Glória, Catete, Flamengo, Botafogo e do Maráca -Templo Sagrado.
Rio de tantos encantos, recantos, cantos em que a cidade encantada se desencanta, se despe, e nua nos leva pelas solidões das noites e nos encontramos todos numa perdida mesa ou balcão de mil botecos e nos pomos a cantar e contar em sambas a estranha e misteriosa alegria e tristeza de sermos cariocas e por causa de Noel, todos nós nascemos um pouco a cada dia, em Vila Isabel.
Maurício Porto
Santa Teresa, Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 2010.
(Texto revisto em 17 de junho de 2011)
Em Memória de Noel Rosa, Gênio Monumental da Música Popular Brasileira.
Do meu livro - Ladeiras do Silêncio.
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