CARTAS DE METRÔ
MOYSEIS MARQUES
Do Metrô de Vicente de Carvalho
Passarela do mesmo baralho
Vi ases envelhecidos
De reis já empobrecidos
Senhora Aparecida
O que será daquele trem?
Que segue o trecho sentido Pavuna
Benefício administrativo
Descanso pro coletivo
Passagem por Inhaúma
Caminho do Juramento
O momento é Irajá
E lá que o baralho se cortou
Com água mais ardente sem Metrô
Surgiram novos cantores
Poetas, compositores
Alunos, professores
De bar, de criação, que esplendor!
As cartas de menor valor
tornaram-se valetes
com damas de respeito
companheiras e tiétes
Motivo pra que toda
A redondeza se alertasse
E jogasse seus coringas
Sobre a mesa
E eu, mais um, no meio desse carnaval
tentando ser original
revelo minha poesia pra você
me transmitir seu parecer
De cada naipe extraio uma emoção
Brincando com a inspiração
E levo a minha vida de compositor
jogando cartas no Metrô...
... No Metrô de Vicente de Carvalho.
Caros leitores,
Sobre Moyseis Marques, leiam o que Ruy Castro, jornalista e escritor, um dos maiores especialistas em música popular brasileira, escreveu sobre ele em 2009.
Moyseis por Ruy Castro**
Moyseis Marques tem apenas trinta anos, mas sambistas como ele não devem ser medidos por suas idades cronológicas. Como continuadores de uma tradição, têm a idade dessa tradição. Parecem trazer dentro deles a herança, o eco, a lembrança de rodas de samba ancestrais, em remotas biroscas do Estácio ou da Cidade Nova, do tempo em que as coisas estavam realmente começando e seus praticantes se chamavam Newton, Ismael, Brancura, Bide ou Marçal. A filiação musical de Moyseis e sua identificação melódica e rítmica com o Estácio parecem tão nítidas – mesmo que por [ilustre] via de Elton Medeiros, Chico Buarque ou Luiz Carlos da Vila – que, estivessem vivos hoje, Chico Alves e Mario Reis já o teriam gravado.
Ao mesmo tempo, numa época em que, em mãos alheias, a música parece encolher para dar lugar a línguas foragidas de Babel, como o funk, o rap e a eletro-pancadaria, Moyseis canta valores como cozinhas ladrilhadas, pinga para o santo e feijão para os amigos – como em “Panos e planos” [dele, em parceria com Luiz Carlos Máximo]. Anacrônico? Não. No plano do samba, o tempo não passa e certos valores são constantes. E quando alguns, de repente, dão as costas ao Rio pelos mercados de fora, Moyseis toma o metrô para Vicente de Carvalho e vê pela janela o desfile de ases e coringas do Carnaval: “Surgiram novos cantores/ Poetas, compositores/ Alunos, professores/ De bar, de criação/ Que esplendor!” – como em “Cartas de metrô”, sua réplica ao fabuloso “Subúrbio”, de Chico Buarque, que ele também canta aqui e, no mano a mano, vê-se que a sua não fica a dever à viagem de trem do mestre. Não há bairro do Rio que não tenha suas próprias reservas de samba, e sábio será quem levar sua música para se abastecer delas.
**Ruy Castro é autor de Carmen – Uma biografia (a vida de Carmen Miranda), Chega de saudade (sobre a Bossa Nova) e muitos outros livros, quase todos pela Companhia das Letras.
Caros leitores,
Sobre Moyseis Marques, leiam o que Ruy Castro, jornalista e escritor, um dos maiores especialistas em música popular brasileira, escreveu sobre ele em 2009.
Moyseis por Ruy Castro**
Moyseis Marques tem apenas trinta anos, mas sambistas como ele não devem ser medidos por suas idades cronológicas. Como continuadores de uma tradição, têm a idade dessa tradição. Parecem trazer dentro deles a herança, o eco, a lembrança de rodas de samba ancestrais, em remotas biroscas do Estácio ou da Cidade Nova, do tempo em que as coisas estavam realmente começando e seus praticantes se chamavam Newton, Ismael, Brancura, Bide ou Marçal. A filiação musical de Moyseis e sua identificação melódica e rítmica com o Estácio parecem tão nítidas – mesmo que por [ilustre] via de Elton Medeiros, Chico Buarque ou Luiz Carlos da Vila – que, estivessem vivos hoje, Chico Alves e Mario Reis já o teriam gravado.
Ao mesmo tempo, numa época em que, em mãos alheias, a música parece encolher para dar lugar a línguas foragidas de Babel, como o funk, o rap e a eletro-pancadaria, Moyseis canta valores como cozinhas ladrilhadas, pinga para o santo e feijão para os amigos – como em “Panos e planos” [dele, em parceria com Luiz Carlos Máximo]. Anacrônico? Não. No plano do samba, o tempo não passa e certos valores são constantes. E quando alguns, de repente, dão as costas ao Rio pelos mercados de fora, Moyseis toma o metrô para Vicente de Carvalho e vê pela janela o desfile de ases e coringas do Carnaval: “Surgiram novos cantores/ Poetas, compositores/ Alunos, professores/ De bar, de criação/ Que esplendor!” – como em “Cartas de metrô”, sua réplica ao fabuloso “Subúrbio”, de Chico Buarque, que ele também canta aqui e, no mano a mano, vê-se que a sua não fica a dever à viagem de trem do mestre. Não há bairro do Rio que não tenha suas próprias reservas de samba, e sábio será quem levar sua música para se abastecer delas.
**Ruy Castro é autor de Carmen – Uma biografia (a vida de Carmen Miranda), Chega de saudade (sobre a Bossa Nova) e muitos outros livros, quase todos pela Companhia das Letras.
Fonte: do Vídeo YOUTUBE
Nenhum comentário:
Postar um comentário