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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

AS MIL E UMA NOITES DO RIO DE JANEIRO

Rio à noite / Google imagens

Vindo de outras mil e uma noites,
uma espécie de Aladim viajante
nos trouxe lâmpadas não maravilhosas
mas sim, extremamente luminosas. 
No Rio, a já Maravilhosa Cidade,
a noite tornou-se um longo dia.
Seu nome, Light.

Os lampiões a gás, aos poucos, se retiraram.
Pareciam não estar tristes, mas sim, felizes,
cansados e mesmo com um certo alívio.
A tênue luz que deles vinha
gerava sombras, vultos, 
fantasmas, quiçá ladrões.
Os próprios lampiões nas noites chuvosas,
ou mesmo simplesmente vazias,
imagino que conversavam 
e confessavam seus temores
por solitários passantes.

A claridade agora sorria das suas poucas sombras.
As ruas do centro se transformaram em festas.
Ruas, praças, bares, coretos, teatros, 
festejavam a chegada de uma nova,
radiante e poderosa lua.

Os lares ganharam pequenas lâmpadas nos aposentos.
Nas salas as conversas se estendiam iluminadas.
Nos quartos os livros agradeciam.
Pequenos lampiões caseiros,
lamparinas, candieiros, entristeceram.
Velas, choraram lágrimas de cera.

A nossa terna e querida lua, rainha da noite,
pega de surpresa, desnorteada, enlouquecida,
desamparada com a cidade lá embaixo
no seu esplendor esfusiante,
procurava desesperada as nuvens
para esconder seu pranto.

São Jorge, prontamente lhe socorreu:
- Calma. Espere a sabedoria do tempo.
Não vai demorar muito,
voltarás a ser a Soberana da Noite.
As novidades passam.
Nós aqui estamos há milhões de anos.
Por aqui ficaremos outros milhões.
Você com sua eterna beleza,
e eu com este maldito Dragão.

São Sebastião, o Padroeiro,
ao ouvir São Jorge respondeu-lhe:
- Os humanos são assim.
Nasceram para adorar novidades.
Outras virão e desta irão se acostumar.
Não duvido que um dia outras lâmpadas surgirão,
tão diferentes que nelas se poderá ver o mundo inteiro.
Os humanos, estranhos seres, em casa, nas ruas, 
bares, restaurantes, filas, encontros,
em todos os lugares se fixarão hipnotizados 
em pequenas e pequeninas janelas luminosas. 
Nelas viverão por um longo tempo aprisionados.

Maurício Porto
Rio, 08/11/2018

Do meu livro: "Ladeiras do Silêncio". 

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